quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O mesolítico digital ou a arte de fazer fogueiras

O homem dominou o fogo há cerca de 500 mil anos, durante o período mesolítico. Isso permitiu ao nosso ancestral, o homo erectus, tornar sua vida mais agradável, confortável e segura. Acender uma fogueira à noite espantava os animais ferozes, reunia a tribo e era a ocasião perfeita para contar histórias de caça, de comportamento, de aventuras e dos deuses. Para dominar o fogo, alguns precisaram se queimar, para que muitos pudessem aprender.


Como bons descendentes, estamos há quase duas décadas lidando de forma mais acessível com um novo tipo de fogo: a Internet. E novos tipos de tribos se organizaram, formadas não mais por etnias ou por localização geográfica, mas por afinidades nas redes sociais. Tribos globais, onde cada integrante, ao propor um tema em um tópico no fórum, na comunidade ou no seu blog, acende uma "fogueira" que atrai seus semelhantes, gerando um espaço para compartilhar histórias e experiências.

Qualquer um pode se conectar a sua tribo, seja em casa ou nas lan houses que se espalham pelo centro e periferia. Apenas na comunidade Montenegro/RS no Orkut há mais de 7.500 pessoas, e o número de comunidades relacionadas a Montenegro ou de montenegrinos se aproxima de uma centena. São diversas fogueiras acesas, diversas conversas ocorrendo simultaneamente e, ainda que só 2% das pessoas participem, as demais 98% estão observando e aprendendo. E a última eleição em Montenegro teve uma diferença inferior a 2% entre o primeiro e o segundo colocado. Quem são os candidatos que estão conversando com essas 7.500 pessoas, que representam mais de 12% da população do município hoje?

Nesse período "mesolítico digital" que vivemos, temos a figura do homo digitalis: pessoas que já nasceram com acesso a Internet e celular, que eram artigos de luxo no início da década de 90. Hoje são extensões do nosso cérebro, armazenando imagens, sons, textos, pesquisas e, principalmente, conectando pessoas. Para essa geração, aparelhos como PC, Notebook, Netbook, Smartphones não são vistos como tecnologia, mas como meios de relacionamento.

Resultados em nosso comportamento: somos mais imediatistas, mais informados, mais exigentes, abertos ao diálogo, a perguntar e a criticar ou elogiar. Há uma sede de conhecimento e reconhecimento consumindo os novos consumidores. E antes que pudéssemos discutir esse impacto adequadamente em Montenegro, no RS, no Brasil, vem a onda do Mobile, que falarei em outro artigo, mas já dou uma prévia: os celulares nos ensinaram a escrever com os dedões ao invés dos indicadores e outros dedos acostumados aos teclados.

No que isso afeta as empresas? Elas precisam aprender aquilo que o homem do período mesolítico sabia: a arte de acender fogueiras, de atrair pessoas e contar histórias, de gerar "calor humano". Precisam aprender a conversar com o consumidor de forma aberta, porque a transparência radical é uma das grandes tendências atuais. O homo digitalis duvida da palavra das marcas, exceto as que ama. Acredita no conhecimento dos seus iguais que são experts em algum assunto. Contribuem. Esperam retorno. Querem se relacionar. E ignorar as necessidades do cliente é o caminho mais rápido para a extinção. Você está escutando?